O estado de alarme decretado em Espanha e muitos outros países do mundo em resposta à pandemia Covid19, desencadeada no início de 2020, limitou a mobilidade da população, obrigando-a a confinar-se nas suas habitações. Esta situação anómala gerou uma alteração em certos aspetos do modo de habitar, causando nos profissionais da arquitetura a exigência de ponderar sobre a mudança dos processos de elaboração de projetos residenciais. O estado de confinamento global é um fenómeno que, sem dúvida, alterará todos os parâmetros envolvidos na vida dos seres humanos e da sua relação com o meio em que habitam; e à lacuna de conhecimento sobre o impacto que vai atingir e o seu grau de afetação, soma-se uma estagnação da conceção dos espaços domésticos na arquitetura contemporânea. É imperativo, portanto, repensar a habitação, em todas as dimensões, os seus vínculos e o papel que o espaço doméstico desempenha em relação às demais áreas envolventes.
O trabalho começa com a pergunta sobre o que possível estudar-se, na forma de habitar, perante a situação atual de confinamento. Em resposta à problemática apresentada, estabelecem-se dois objetivos: o primeiro será identificar relações entre as pandemias e a evolução da arquitetura doméstica, explorando a história para fazer uma comparação das implicações obtidas; e o segundo, estabelecer recomendações para a adaptação da arquitetura doméstica em consequência do confinamento imposto pela Covid-19.
Para tal, partiu-se da desagregação dos significados do espaço doméstico, nos conceitos teóricos considerados mais relevantes, para os extrapolar através da investigação empírica da experiência pontual verificada sobre uma amostra representativa da população; realizando uma pesquisa de natureza qualitativa, com a abordagem metodológica do estudo de casos múltiplos.
Consequentemente, ao chegar às conclusões, depois de confrontar a teoria com a experiência, estabeleceram-se as recomendações que, com maior rigor, se orientam para responder à necessidade enunciada de adaptação da arquitetura doméstica à realidade contemporânea. Assim, esta situação inédita, gerada pela pandemia do coronavírus, pode ser aproveitada como uma oportunidade para acelerar o processo evolutivo da habitação, com base na reconceptualização do espaço doméstico, por meio de uma mudança de paradigma, onde o indivíduo é o centro do projeto arquitetónico, procurando alcançar- lhe o maior conforto possível.